A
tomada do poder : Gramsci e a comunização do Brasil
Anatoli
Oliynik
A
hundred tales of human history are there to show that tendencies can be turned
back, and that one stumbling-block can be the turning point. The sands of time
are simply dotted with single stakes that have thus marked the turn of the
tide.
G.K.
CHESTERTON
Há centenas de
acontecimentos na história humana que mostram que tendências podem ser
revertidas, e que uma pedra em falso pode ser o momento da volta. As areias do
tempo estão pontuadas com estacas que assim marcam a virada da maré.
Em lugar algum no
mundo o pensamento de Gramsci foi tão disciplinadamente aplicado como está
sendo no Brasil, agora pelo PT, cuja nomenklatura governamental
segue com rigor as
orientações emanadas dos intelectualóides uspianos que dirigem o Foro de São
Paulo e que têm como cartilha os Cadernos do Cárcere, de Gramsci.
Quem não está
familiarizado com as ideologias políticas, por certo estará perguntando: Quem
foi Gramsci e qual sua relação com o comunismo brasileiro? Antonio Gramsci
(1891-1937), pensador e político foi um dos fundadores do Partido Comunista
Italiano em 1921, e o primeiro teórico marxista a defender que a revolução na
Europa Ocidental teria que se desviar muito do rumo seguido pelos bolcheviques
russos, capitaneados por Vladimir Illitch Ulianov Lênin (1870-1924) e seguido
por Iossif Vissirianovitch Djugatchvili Stalin (1879-1953).
Durante sua prisão na
Itália em 1926, que se prolongou até 1935, escreveu inúmeros textos sobre o
comunismo os quais começaram a ser publicados por partes na década de 30, e
integralmente em 1975, sob o título Cadernos do Cárcere. Esta publicação,
difundida em vários continentes, passou a ser o catecismo das esquerdas,
que viram nela uma
forma muito mais potente de realizar o velho sonho de implantar o
totalitarismo, sem que fosse necessário o derramamento de sangue, como ocorreu
na Rússia, na China, em Cuba, no Leste Europeu, na Coréia do Norte, no Camboja
e no Vietnã do Norte, países que se tornaram vítimas da loucura coletiva
detonada por ideólogos mentecaptos.
Gramsci professava que
a implantação do comunismo não deve se dar pela força, como aconteceu na
Rússia, mas de forma pacífica e sorrateira, infiltrando, lenta e gradualmente,
a idéia revolucionária. A estratégia é utilizar-se de diplomas legais e de
ações políticas que sejam docilmente aceitas pelo povo, entorpecendo
consciências e massificando a sociedade com uma propaganda subliminar,
imperceptível aos mais incautos que, a priori, representam a grande maioria da
população, de modo que,
entorpecidos pelo
melífluo discurso gramsciano, as consciências já não possam mais perceber o
engodo em que estão sendo envolvidas. A originalidade da tese de Gramsci reside
na substituição da noção de “ditadura do proletariado” por “hegemonia do
proletariado” e “ocupação de espaços”, cuja classe, por sua vez, deveria ser,
ao mesmo tempo, dirigente e dominante.
Defendia que toda
tomada de poder só pode ser feita com alianças e que o trabalho da classe
revolucionária deve ser primeiramente, político e intelectual. A doutora Marli
Nogueira, juíza do trabalho em Brasília, e estudiosa do assunto, nos dá a
seguinte explicação sobre a “hegemonia”: “A hegemonia consiste na criação de
uma mentalidade uniforme em torno de determinadas questões, fazendo com que a
população acredite ser correta esta ou aquela medida, este ou aquele critério,
esta ou aquela ´análise da situação´, de modo que quando o comunismo tiver
tomado o poder, já não haja qualquer resistência. Isto deve ser feito, segundo
ensina Gramsci, a partir de diretrizes indicadas pelo ´intelectual coletivo´ (o
partido), que as dissemina pelos ´intelectuais orgânicos´ (ou formadores de
opinião), sendo estes constituídos de intelectualóides de toda sorte, como
professores – principalmente universitários (porque o jovem é um caldo de
cultura excelente para isso), a mídia (jornalistas também intelectualóides) e o
mercado editorial (autores de igual espécie), os quais, então, se encarregam de
distribuí-las pela população”.
Quanto à “ocupação de
espaços”, pode ser claramente vislumbrada pela nomeação de mais de 20 mil
cargos de confiança pelo PT em todo o território brasileiro, cujos detentores
desses cargos, militantes congênitos, têm a missão de fazer a acontecer a
“hegemonia”.
Retornando a Gramsci
e segundo ele, os principais objetivos de luta pela mudança são conquistar, um
após outro, todos os instrumentos de difusão ideológica
(escolas,
universidades, editoras, meios de comunicação social, artistas, sindicatos
etc.), uma vez que, os principais confrontos ocorrem na esfera cultural
e não nas fábricas,
nas ruas ou nos quartéis.
O proletariado
precisa transformar-se em força cultural e política, dirigente dentro de um
sistema de alianças, antes de atrever-se a atacar o poder do Estado-burguês.
E o partido deve
adaptar sua tática a esses preceitos, sem receio de parecer que não é
revolucionário.
Isso o povo
brasileiro não está percebendo, pois suas mentes já foram entorpecidas pelo
governo revolucionário que está no poder. Desta forma, Gramsci abandonou a
generalizada tese marxista de uma crise catastrófica que permitiria, como um
relâmpago, uma bem sucedida intervenção de uma vanguarda revolucionária
organizada. Ou seja, uma intervenção do Partido.
Para ele, nem a mais
severa recessão do capitalismo levaria à revolução, como não a induziria nenhuma
crise econômica, a menos que, antes, tenha havido uma preparação ideológica. É
exatamente isto que está acontecendo no presente momento aqui no Brasil: A
preparação ideológica. E está em fase muito adiantada, diga-se de passagem.
Segundo a doutora
Marli Nogueira: “Uma vez superada a opinião que essa mesma sociedade tinha a
respeito de várias questões, atinge-se o que Gramsci denominava ´superação do
senso-comum´, que outra coisa não é senão a hegemonia de pensamento. Cada um de
nós passa, assim, a ser um ventríloquo a repetir, impensadamente,
as opiniões que já
vêm prontas do forno ideológico comunista. E quando chegar a hora de dizer
´agora estamos prontos para ter realmente uma ´democracia´ (que, na verdade,
nada mais é do que a ditadura do partido), aceitaremos também qualquer medida
que nos leve a esse rumo, seja ela a demolição de instituições, seja ela a
abolição da propriedade privada, seja ela o fim mesmo da democracia como sempre
a entendemos até então, acreditando que será muito normal que essa ´volta à
democracia´ se faça por decretos, leis ou reformas constitucionais”.
Lênin sustentava que
a revolução deveria começar pela tomada do Estado para, a partir daí,
transformar a sociedade. Gramsci inverteu esses termos: a revolução deveria
começar pela transformação da sociedade, privando a classe dominante da direção
da “sociedade civil” e, só então, atacar o poder do Estado. Sem essa prévia
“revolução do espírito”, toda e qualquer vitória comunista seria efêmera.
Para tanto, Gramsci
definiu a sociedade como “um complexo sistema de relações ideais e culturais”
onde a batalha deveria ser travada no plano das idéias religiosas, filosóficas,
científicas, artísticas etc. Por essa razão, a caminhada ao socialismo proposta
por Gramsci não passava pelos proletariados de Marx e Lênin e nem pelos
camponeses de Mão Tse Tung, e sim pelos intelectuais, pela classe média, pelos
estudantes, pela cultura, pela educação e pelo efeito multiplicador dos meios
de comunicação social, buscando, por meio de métodos persuasivos, sugestivos ou
compulsivos, mudar a mentalidade, desvinculando-a do sistema de valores
tradicionais,
para implantar os
valores da ideologia comunista. Fidel Castro, com certeza, foi o último
dinossauro a adotar os métodos de Lênin. Poder-se-á dizer que Fidel é o último
dos moicanos às avessas considerando que seus discípulos Lula, Morales,
Kirchner, Vasquez e Zapatero, estão aplicando, com sucesso, as teses do Caderno
do Cárcere, de Antônio Gramsci.
Chávez, o troglodita
venezuelano, optou pelo poder força bruta e fraudes eleitorais. No Brasil, por
via das dúvidas, mantêm-se ativo e de prontidão o MST e a Via Campesina, como
salvaguarda, caso tenham que optar pela revolução cruenta que é a estratégia
leninista.
Todos os valores que
a civilização ocidental construiu ao longo de milênios vêm sendo
sistematicamente derrubados, sob o olhar complacente de todos os brasileiros,
os quais, por uma
inocência pueril, seja pelo resultado de uma proposital fraqueza do ensino,
seja por uma ignorância dos reais intentos das esquerdas, nem mesmo se dão
conta de que é a sobrevivência da própria sociedade que está sendo destruída.
Perdidos esses valores, não sobra sequer espaço para a indignação que, em
outros tempos, brotaria instantaneamente do simples fato de se tomar
conhecimento dos últimos acontecimentos envolvendo escancaradas corrupções em
todos os níveis do Estado.
O entorpecimento da
razão humana, com o conseqüente distanciamento entre governantes e governados,
já atingiu um ponto tal que, se não impossibilitou, pelo menos tornou
extremamente difícil qualquer tipo de reação por parte do povo. Estando os
órgãos responsáveis pela sua defesa– imprensa, associações civis, empresariado,
clero, entre outros – totalmente dominados pelo sistema de governo gramsciano que
há anos comanda o País, o resultado não poderia ser outro: a absoluta
indefensabilidade do povo brasileiro.
A este, alternativa
não resta senão a de assistir, inerme e inerte, aos abusos e desmandos daqueles
que, por dever de ofício, deveriam protegê-lo em todos os sentidos.
A verdade é que os
velhos métodos para implantação do socialismo-comunismo foram definitivamente
sepultados. Um novo paradigma está sendo adotado, cuja força avassaladora está
sendo menosprezada, e o que é pior, nem percebido pelo povo brasileiro.
O Brasil está sendo
transformado, pelas esquerdas, num laboratório político do pensamento de
Gramsci sob a batuta de Lula, o aluno aplicado, e a tutela do Foro de São
Paulo.
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